Estava aqui com meus
botões emperrados, pensando se existe um jeitinho bom, uma fórmula, de como
decidir pelo melhor, pelo que vai te dar algum sucesso nessa vida.
Falam de pensar
positivo, de fé, de aqui se faz aqui se paga, tem até um livro aí que fala do
segredo, mas pra mim isso tudo é muito abstrato...
E abstração,
infelizmente, nunca foi eficiente no meu mundo.
Essa paranóia toda
rolou, quando enfiei meu pé fundo na areia fofa daquela praia.
Foi quase como uma
constatação, resultado de anos de pesquisa torta.
Era a isso que me
referia.
Vida real, cotidiano, possibilidade,
coisa que acontece, que dá pra tatear.
Era meu pé que estava
ali enfiado naquela areia branca.
E aquele conjunto era
bom. Me dava prazer.
Eu vi que não queria
nenhum outro lugar nesse mundão de praias paradisíacas, paisagens coloridas e
luxos surreais, que não fosse aquele chão onde meu pé estava plantado.
Nenhum camarote em
Ibiza com caras sarados.
Nenhuma fazendinha
silenciosa com vacas pastando.
Era só ali, o meu
lugar.
Na minha mão direita
tinha um copo plástico mastigado, com cerveja dentro.
Ele suava, brotava um monte
de gotinhas que corriam loucas pela superfície e saíam do copo pra pousar justo
na minha perna quente do sol.
E era um arrepio
gostoso, que trazia aquela mesma sensação, que eu experimentei com os pés na
areia.
Sensação viva de estar
no centro do meu desejo. Era eu inteirinha ali naquela tarde de verão.
Foi aí que eu lembrei das vezes em que amarguei vontades reprimidas,
que tatuei rosto feliz na cara, que botei salto alto com dor, roupa apertada e
quente, discursei texto falso e interpretei no estilo novela mexicana. Lembrei do dia que coçou o pé quando tocou minha
música e eu não dancei, das chances que perdi, em nome do que é socialmente bonito,
de ser feliz.
Defini então a minha
fórmula.
Naquela tarde eu
entendi que bom mesmo é me limitar pela sensatez do medo que freia, me
impulsionar pelo desejo que atiça e ir adiante com a coragem que abre precedente.
Respeitar meu paladar,
minha história e o apelo doce de quem eu amo. Deus, nessa história
toda e por motivos logicamente hierárquicos, é quem determina a porção e a hora
exata que cada um desses ingredientes entra na mistura.
Eu descobri, por fim, que
o certo é sempre clichê.
Se quer beijar, beije.
Amar, ame. Viajar pro Iraque, comer quindim tendo colesterol, chorar na frente
da sua mulher, mudar de curso no último ano de formação, virar hippie, sentir
medo.
Enfim, se assuma. Eu só fui feliz realmente, quando saí do armário.
Muito bom! Me identifico muito com a sinceridade dos sentimentos que vc escreve. Continue! Beijo!
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