A gente é gente.
A gente é corpo. Todos cagamos e mijamos.
A gente se olha no espelho, vira de bunda e confere a
situação da celulite, que aliás, vai sempre muito bem essa safada.
A gente deseja o carro novo e
foda que o amigo comprou.
A gente olha as fotos do casamento e já se imagina lá na
igreja, toda de branco, decide o que teria de lindo e o que não teria de brega
na nossa festa.
Assalta a geladeira e forja a dieta quando não tem ninguém
olhando.
Mente que está mantendo o ritmo na academia pra quem se
envolveu no tal do projeto verão (e está na torcida pela gente), não se
decepcionar.
A gente é bom.
Sente dó cachorrinho magrelo que todo dia está na esquina de
casa, implorando um pão e carinho.
No sinal, dá moedas pro argentino sujinho (porém gato) que
faz malabares.
Faz doação, se envolve em causas (anti)sociais, sai pra rua
pra protestar por um amontoado de não-sei-o-quê, avisa que a colega saiu do
banheiro da balada com o papel grudado no sapato.
A gente é ruim.
Finge que não vê o idoso entrar no ônibus, já que tem gente
mais nova sentada e nem se mexe pra ceder o assento.
Faz que não viu aquele vizinho chato, só pra não interagir.
Visualiza e não responde.
Manda indireta.
Deseja que ele fique impotente, corno e que ela
engorde.
A gente é isso tudo e
se suja todo dia na lama da humanidade.
Baba a saliva dos imperfeitos, feitos de carne, ossos e
sentimento.
A gente é essa máquina antiga que ninguém quer trocar, porque
tem apego.
Ainda não inventaram nenhuma evolução da gente, porque a
gente é o que há de mais evoluído no melhor e no pior.
Nenhuma se espécie se supera tanto, todo dia, em cagar com
tudo e aparecer com um choro na garganta pedindo perdão.
Ás vezes cansa ser gente, dá vontade de se esconder, faz ode à preguiça de conviver, jura que vai se relacionar só com árvores, ter um cachorro ou
até ser um, pra justificar tanta
cachorrada e amar aquela cadela, quem sabe.
Mas ainda bem que isso passa e o telefone logo toca com uma
porção de gentes legais te chamando pra tomar umas.
Ainda bem que a gente muda de ideia toda hora.
Ainda bem que Deus se faz de surdo e ri da gente.
Ainda bem que a gente é gente.
Kamila V.
'Nenhuma se espécie se supera tanto, todo dia, em cagar com tudo ' (...)
ResponderExcluirFaltou a dedicatória para mim! :*
Ótimo texto, negas!
Hahahaha, esqueci de citar, midesgupi!
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