Ela sentia o suor pelas costas.
As gotas procuravam em cada investida, caminhos diferentes e denunciavam o nervosismo na camisa branca.
Ela estalava os dedos, balançava as pernas, mudava a posição, folheava cega uma revista antiga.
Enxergava a demora pendurada no ponteiro.
Toneladas sobre as horas.
Havia anos que ela sonhava, imaginava, supunha, como seria aquele momento.
Como seria ele? Como seria seu rosto? Será que ele lembraria das coisas que ela havia dito até ali? Dos pedidos, das exigências, dos desabafos, dos desafios, dos erros, dos acertos?
Ela só sabia que estava preparada. Perfeita e impecável, ao menos na aparência.
Na frente dela, a porta. Após a porta, o desconhecido.
Quando ela se abriu, uma estatura mediana de aparência comum demais, surge do interior da sala branca.
Até aí, abaixo da expectativa.
Ela segue no seu salto e na sua roupa cara atravessando a sala de espera até chegar em frente a ele.
Os dois olham-se nos olhos.
Ela descobrindo. Ele reconhecendo.
Já dentro da sala, sentam-se em silêncio, frente-a-frente.
Ela pede, ele pede, que fale. Os dois riem da coincidente frase e ele começa.
Conta da saudade, da espera, do sofrimento, das alegrias, enfim, só fala dela e do que ela faz o tempo todo.
Coisas que ela nem lembra mais. Coisas que ela prefere esconder. Muitas e muitas coisas.
E com as memórias boiando na tona, ela ri, chora, envergonha-se, orgulha-se.
O corpo esquece de suar, de tremer. Ele a acalma tanto...
A serenidade faz todo sentido ali perto dele.
E depois de tudo exposto, ela pede perdão pela milésima vez.
Promete mudar a si e ao mundo. Quebrar diferenças, tabus, preconceitos.
Ele só sorri. Diante daquele desespero infantil ele acalma com aquela transparência cristalina, que só tem que não tem nada a esconder. Só os donos da verdade.
E ela se esforça pra que ele acredite que dali pra frente será tudo diferente. Que aquele encontro mudou tudo nela, essencialmente.
Mas ele sabe que não. Ele com os ombros pesados e doridos, sabe que ao despedir-se ela será tão sórdida, tão igual a todos os outros.
Mas ele a ama.
E naquele momento só ela importa.
Não quer perdê-la dali. Não quer perdê-la assim purificada, redimida, arrependida.
Resta pra ele duas opções.
Deixá-la ir e sofrer de novo a dor, a saudade, a ausência.
O esquecimento a encontrará na porta da sala. E a levará nos braços mais uma vez.
Ou findar tudo ali, já que os pratos estão limpos.
Resta pra ela uma escolha.
Então ele a fulminou com os olhos. E ela caiu sobre os ombros da poltrona.
Sem mudar o mundo, sem acabar com preconceitos e diferenças.
Não foi solidária, não entrou pra nenhuma Ong.
Não deu esmola, não fez caridade, nem doou órgãos.
Mas quando ela intencionou, ainda que por minutos, ser alguém melhor, ele aproveitou para salvá-la dela mesma.
Pra nunca mais errar.
As gotas procuravam em cada investida, caminhos diferentes e denunciavam o nervosismo na camisa branca.
Ela estalava os dedos, balançava as pernas, mudava a posição, folheava cega uma revista antiga.
Enxergava a demora pendurada no ponteiro.
Toneladas sobre as horas.
Havia anos que ela sonhava, imaginava, supunha, como seria aquele momento.
Como seria ele? Como seria seu rosto? Será que ele lembraria das coisas que ela havia dito até ali? Dos pedidos, das exigências, dos desabafos, dos desafios, dos erros, dos acertos?
Ela só sabia que estava preparada. Perfeita e impecável, ao menos na aparência.
Na frente dela, a porta. Após a porta, o desconhecido.
Quando ela se abriu, uma estatura mediana de aparência comum demais, surge do interior da sala branca.
Até aí, abaixo da expectativa.
Ela segue no seu salto e na sua roupa cara atravessando a sala de espera até chegar em frente a ele.
Os dois olham-se nos olhos.
Ela descobrindo. Ele reconhecendo.
Já dentro da sala, sentam-se em silêncio, frente-a-frente.
Ela pede, ele pede, que fale. Os dois riem da coincidente frase e ele começa.
Conta da saudade, da espera, do sofrimento, das alegrias, enfim, só fala dela e do que ela faz o tempo todo.
Coisas que ela nem lembra mais. Coisas que ela prefere esconder. Muitas e muitas coisas.
E com as memórias boiando na tona, ela ri, chora, envergonha-se, orgulha-se.
O corpo esquece de suar, de tremer. Ele a acalma tanto...
A serenidade faz todo sentido ali perto dele.
E depois de tudo exposto, ela pede perdão pela milésima vez.
Promete mudar a si e ao mundo. Quebrar diferenças, tabus, preconceitos.
Ele só sorri. Diante daquele desespero infantil ele acalma com aquela transparência cristalina, que só tem que não tem nada a esconder. Só os donos da verdade.
E ela se esforça pra que ele acredite que dali pra frente será tudo diferente. Que aquele encontro mudou tudo nela, essencialmente.
Mas ele sabe que não. Ele com os ombros pesados e doridos, sabe que ao despedir-se ela será tão sórdida, tão igual a todos os outros.
Mas ele a ama.
E naquele momento só ela importa.
Não quer perdê-la dali. Não quer perdê-la assim purificada, redimida, arrependida.
Resta pra ele duas opções.
Deixá-la ir e sofrer de novo a dor, a saudade, a ausência.
O esquecimento a encontrará na porta da sala. E a levará nos braços mais uma vez.
Ou findar tudo ali, já que os pratos estão limpos.
Resta pra ela uma escolha.
Então ele a fulminou com os olhos. E ela caiu sobre os ombros da poltrona.
Sem mudar o mundo, sem acabar com preconceitos e diferenças.
Não foi solidária, não entrou pra nenhuma Ong.
Não deu esmola, não fez caridade, nem doou órgãos.
Mas quando ela intencionou, ainda que por minutos, ser alguém melhor, ele aproveitou para salvá-la dela mesma.
Pra nunca mais errar.
Kamila V.
(Postado em 14 de agosto de 2008, no meu antigo blog: kamilavalente.blogspot.com )
''Mas ele a ama...''
ResponderExcluirMuito lindo. Parabens
eu acabei lendo td sem qerer.. xD
ResponderExcluirgostei muito!!