quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Era eu.





Era o arrepio da minha pele, o gosto da minha fruta, beijando o meu beijo.
Era o meu riso largo, meu ciúme bobo, cheinho de medo. 
Era minha mão, naquele ponto G na minha nuca.

Minha mordida dolorida, minha força sensivelmente bruta.
Era todo meu. Meu jeito, minha fala, meu céu de brigadeiro. Dor depois. Paz primeiro.
Era minha entrega. Cor vermelha de vergonha.
Era minha rima, em par, em paz, minha sina.
Era a continuação da frase que era minha. Meu início e meio assim sem fim.

A melhor parte de mim, naquilo que eu não sabia ser eu.
Era eu, só que corajoso.
Era eu sem meias palavras, sem nobreza clara.

Era eu andando sozinho, vagando pelo mundo sem sentir fome.
Eu, menos quente. Mais suado. Mais frio, forte e vago que só. Eu.

Era meu lado amargo, sem jeito. Mas era eu inteiro, quase um reflexo no espelho.
E era bom estar comigo, era bom rir, amar e ser meu amigo. Era bom o amor-próprio, que como qualquer autoamor, me elevava a estima.

Era bom me saciar, porque eu sabia exatamente quando, o que e onde eu queria.
Ele era assim, uma versão melhorada de mim. 
Meu eu homem. 
Meu homem.

Kamila Valente

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