Eu fecho os dedos e viro uma esquerda.
Duas direitas.
E outra, de baixo pra cima no queixo.
Depois dou com o joelho na região abdominal e sem sucesso
pego uma faca e enterro no músculo da perna. Giro.
Sento no chão, suor na testa, olho inchado de choro grosso,
ossos do punho quebrados, mãos cortadas, sangue fugindo por tudo que é
buraco.
E ela nada...linda como um boneco de cera.
Como uma estátua, daquelas viçosas, que se eternizam nos museus, na casa de
colecionadores milionários. Aquele busto brilhoso, músculo marcado e beleza
de dar medo, mas que por dentro é só concreto.
Ela só faz me olhar com aquela expressiva cara de boneca inflável, com boca aberta e tudo, mas que por dentro, é só ar.
Ela só faz me olhar com aquela expressiva cara de boneca inflável, com boca aberta e tudo, mas que por dentro, é só ar.
E eu chorando a dor dos punhos e peito, tentando expelir
aquele cansaço agudo, pontiagudo no meu coração, vi que era inútil gastar
minha saliva, força e sangue com uma pessoa que não se dói, não sangra,
não dilata amor, nem graça, nem nada.
Que não tem cérebro e coração, nem pra entender porque é que apanha.
Que não tem cérebro e coração, nem pra entender porque é que apanha.
E eu chorei de novo,
porque eu vi ruir toda a construção que durante anos, havia arquitetado nela.
Porque vi desbotar a vida colorida que a gente pintou. Vi secar o jardim bonito que a gente plantou.
De repente eu sinto minha cachorrinha, a Hanna, lamber meu
dedão do pé enquanto eu acordo suada daquele sonho terrível.
Agradeci ao
céus, por tudo não ter passado de um pesadelo e também por, pelo menos dessa
vez, eu ter escolhido a cachorra certa pra ser
minha amiga.