Não consigo ver culpa em uma coisa só. Acho que foi tudo.
Foi um pouco de guerra entre os continentes. Foi o último
bombom da tua caixa que eu roubei. Foi o troco a menos que me deram. Foi o troco
a mais que alguém consentiu. Foi aquela verba que desviaram. Foi o tapa na
cara.
Aquela câmara de gás. O estupro. O abuso.
Foi aquele ônibus incendiado.
A sacola pesada no braço, que geral fez que não viu. A mulher grávida em pé no ônibus. A mensagem
no celular. A enrolação. A maldade.
Foi por tudo isso, talvez, que a gente desaprendeu a crer.
Foi aí no meio desse caminho escuro que a gente perdeu a hora do encontro lindo com a gentileza.
A confiança no amor.
E isso virou um ciclo.
A gente caiu numa errada e agora é cada um por si e
Deus...bom, tem que ter muita coragem pra acreditar nele também.
Porque parece que ficou tão longe o céu da terra, que do nosso teto as preces não passam mais.
É como se uma nuvem espessa cobrisse tudo, todos, a ponto da
graça não alcançar mais a gente.
As gentes.
E se alguém tenta colorir, com um gestinho que seja, esse
mundo cinza, instala-se o espanto.
É como se houvesse
uma mãe gritando alto pra gente não aceitar doce de ninguém.
Eu pequei, errei muito.
Tentei adoçar uns azedumes, doar minhas
mãos, cuidar dos tesouros que me entregaram, mas me disseram que precisavam ir, porque eu levava jeito pra coisa e ninguém é tão bom assim hoje em dia.
Percebendo que eu tinha sede de beber sonhos de canudinho
pra engolir realizações, só me contaram pesadelos, pra que assim eu caísse na
real. No mundo real.
Algumas pessoas teimam todos os dias em entregar seus
corações, em doar a parte mais bonita de si.
Uma teimosia infantil que têm partido almas, porque em
contrapartida, outras almas não são evoluídas o suficiente para digerir doçuras.
Se assustaram quando eu pedi pra acreditarem que a vida é boa, e isso,
já cantado com beleza pelos Novos Baianos, nunca fez tanto sentido.
Já perdemos o controle, mudamos o ditado pro mal sempre
vencer.
Ser ruim, engrossar, estupidar, ta na moda. E quem não tem o
poder de transformar o coração em pedra barata, fica aí pelos cantos lamentando
as pérolas que já viraram colares nos pescoços dos porcos.
E assim a gente vai, devagarinho, sofrendo um tanto,
depois um pouco menos, secando uma lágrima aqui, outra ali, até que tudo fique
seco como um deserto e a gente possa viver em guerra, alcançando enfim, nosso
objetivo que é o fim.
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