sábado, 26 de janeiro de 2013

Paixão em HD.


Ele queria me ver sorrir. E tudo que eu queria era ver o jornal.

Ele queria o gosto, o jeito, o tom que tem tudo que tem amor.
E eu queria nada.
No máximo, a janela bem fechada pra dormir .

Ele me queria tanto, mais com tanta força, que se perdia entre o querer. Perdia o fim daquela vontade. Me balançava com coisas tão novas e bonitas, pra ele. E eu só balançava com aquela bagunça dele. Só mexia, como um João Bobo sem vida.

E ele tinha tanta vida.

Tinha todo o gás que tem aquelas paixões irritantemente fortes.
Que tem força pra ter ciúme, pra brigar horas no telefone, pra trocar sonhos e mensagens o dia todo.
E eu morna ali.

Mas Ele sempre conseguia me arrancar um sorriso ou outro.
Um sorrisinho sem força, mas com um pouquinho de graça. E de repente eu estava aos berros, pedindo pra ele parar de me morder, de beijar minha barriga, porque ali era meu ponto fraco.
E ele não parava claro, e eu me cansava gostoso.


E de repente eu começava a respirar.
Como se alguém soprasse fôlego nos meus pulmões. E eu amava e tinha vontade de gostar.
De recomeçar, de novo, tudo outra vez, novamente. Assim mesmo, num completo pleonasmo.

E éramos de mundos diferentes. Ele do calor, eu do frio.
Pólos opostamente apaixonados.

Ele era tão previsível pra mim que apesar do meu mundo distante, eu sabia exatamente o que ele ia dizer. Talvez não fosse essa de ser previsível, talvez fossem nossas frequências, sonando juntas. Aí ficava fácil de descobrir o que pensávamos, só de olhar e se afinar no riso.

E ele era vida em HD. Sem filme preto e branco. Sem cinema dentro do carro. Pura década de 90.

Era intenso o poder de resgatar em mim aquela vontade infantil de amar na rua, na chuva, na fazenda. De me sentir bonita, feito adolescente usando roupa nova. De me sentir menina e não mulher.

Porque às vezes tudo que a gente quer é esquecer as contas pra pagar, que segunda cedo tem e que a idade tá chegando.

Às vezes, tudo que a gente quer é ter alguém só pra dividir o kit kat.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Banho de Lua




Aquele céu mais parecia um grafite.
Pra vocês entenderem melhor, era uma malha de estrelas que parecia os respingos de uma tinta branca num teto azul escuro.
Noite sem lua, meus queridos. Fucei em cada canto daquele céu e nada.
Fascinante.
Não gosto da palavra e achei que nunca fosse adjetivar coisas com ela. Mas o "nunca" é imbecil e naquele momento não me ocorria nenhuma outra definição.
Não sei se pela falta da bola iluminada, de repente a lua tinha explodido e se transformado naquelas milhões de estrelas.
Não sei se pelo lugar, pela companhia, mas tava lindo de viver aquilo.

E eu sem nenhuma câmera digna.

Fechei então, os polegares e indicadores formando um quadradinho com as mãos e fotografei aquela tela pra mim. Guardei no coração pra acreditar no que vi, porque parecia mentira e enjoava de tão lindo.
Descobri, então, naquela hora, que já tinha vivido um amontoado de coisas diferentes e legais na vida, mas aquele céu...
E como qualquer coisa inexplicável que se preze,  pipocou na mente um monte de possíveis explicações.

Aí que concluí, meio torta, que a beleza toda talvez estivesse no fato de ser um céu naquela altura da vida da gente em que não se  faz mais pedido pra estrela cadente, mas também não se abaixa a cabeça acreditando que a qualquer hora ela vai passar rasgando o céu.

Vai ver que era um céu de gente grande.

Visto com olho viciado, sem foco e cheio de certezas esfarrapadas, mas olhos que finalmente souberam enxergar no escuro aqueles milhares de pequenos brilhos.

Aquele era o céu que eu construí pra mim, e só era lindo daquele tanto, porque eu tinha aprendido que as coisas são tão mais lindas quando se olha pra frente, pra cima.

Eu lembro do meu pai falando pra eu olhar pra baixo quando eu tinha uns 6 anos, que era pr'eu não tropeçar em nada. Eu fiz isso até o dia em que minha altura alcançou a maldita lixeira da vizinha. E é bem isso mesmo, olhar pra baixo dói a coluna e a gente dá com a cara no muro da vida.

Pra trás, bom, o que ficou pra trás cansou de repousar meu olhar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Quero, meio sem querer.




Eu quis mandar uma mensagem pro teu telefone te contando o que tá pegando aqui comigo. Do jeito que tá um caos essa telefonia móvel, é bem provável que você não receba o tal texto e eu cumpra meu  principal objetivo que é o de  ficar com aquela falsa sensação de dever cumprido do que propriamente você ler minha declaração.

Depois eu pensei em bem que você podia estar atrás da porta, escutando a conversa que tive com meu melhor amigo, assim você ia ficar sabendo tudo, sem necessariamente ter que te falar.


Imaginei se ia parecer muito descarado da minha parte, eu compartilhar contigo aquela música nova que descobri, só pra você ler a letra e deixar ela cantar por mim.


E se de repente eu fosse até o restaurante que você almoça diariamente e sentasse na mesa ao lado, e comesse, e falasse ao telefone, e desprezasse a salada no canto do prato. Só pra fingir que a vida é rotina e o ar não falta na tua presença, só pra disfarçar esse eu quero com tanto sem querer.


Eu podia ainda, te chamar pra conversar em qualquer dessas redes sociais que a gente é intimamente amigo e dizer que foi engano mas já que tava ali queria saber como tinha sido tua semana. Só pra ser vista.


Mas eu não fiz e nem vou fazer nada disso, talvez por medo, talvez por sensatez ou talvez por eu ser uma retardada que não enfrenta os próprios bloqueios. 


Não me orgulha essa covardia infantil perto dos 30, mas é que você aumenta em mim, a produção dos sentimentos e hormônios mais femininos do mundo. Com você, sou mulherzinha.


E pra sobreviver a tudo isso eu fico criando planos (in)falíveis e babacas pra brincar com a verdade, já que eu não posso brincar com teus dedos pousados na minha barriga.


Na realidade, eu queria que você soubesse do caso, sem ser contado em verbos. Queria que soubesse por ser óbvio, por ser do destino, por ser da gente se esbarrar nesse canto do mundo depois de ficar tonto rodando países, cidades e histórias.


Achei que pela coincidência dos nossos discos, livros e gosto, era uma boa ideia voar juntos assim livre, leve e solto como só a gente sabe ser.