Oi.
Eu não sei o número da tua caixa postal, nem o nome da tua rua. Mas essa carta vai chegar, é isso que eu sei. Basta eu dizer: Indireta, vai! Toma teu rumo. E cada palavra aqui vai te chegar aos ouvidos.
Como música ruim, como briga, como soluço, como canção pra dormir? Não sei, mas vai.
Eu pensei sobre o que te falar especificamente, ou do 1º assunto a tratar, mas vi que meus sentimentos não têm hierarquia, e seria difícil separar por nível de importância.
O clichezão de que te odeio e te amo ao mesmo tempo. De que te quero e não posso te querer. De que sonho uma família estilo: cama, mesa e banho e ao mesmo tempo em comprar um bilhete aéreo pra Amsterdã, abandonando assim, os poucos semestres que me separam do canudo, na universidade.
Eu sei que não vou conseguir resumir nessa carta o que haveria de essencial em te dizer. Mas se ela é pra você, é porque você, é essencial.
Mesmo com tudo errado e todos os pontos negativos que essa vontade carrega, mesmo ciente que isso vai ser uma vontade Eterna, mesmo com todos os mesmos, eu sei do teu lugar no meu coração, o qual vai além do teu lugar no campo das minhas idéias.
Talvez teu português aloprado não te deixe entender (mais uma vez...) o que meu vocabulário pseudo-culto quer dizer. Mas não se preocupe, não é só falta do exercício da leitura, mas uma baita confusão da minha parte, Tom, ficaria encabulado ao ler.
Bom, e pra não ficar só na introdução, eu vou te falar que não coloquei meu endereço porque também não quero resposta. Quero só que você leia e saiba, que apesar do que disseram, do que viram, do que acham, do que sabem, eu amo você.
E amo mesmo, tanto que esses dias eu estava no ônibus parado na fila, usei o tempo pra enumerar todos os seus defeitos físicos e psicológicos e quando a raiva e desprezo estavam no fim da formação dentro de mim, eu ri. Apenas ri, porque eu amo até seus defeitos, não tem como não acabar em riso. Lembrando do teu pé bizarro, das poses que fazias na frente do espelho enquanto eu te espiava e da tua decepção com o comprimento da minha saia.
Seria pedir demais, eu sei. Não, não pra você um “remember”. Pro tempo voltar. O tempo não volta e essa é a lição mais dura que se há pra aprender na vida.
Taí, era isso que eu queria te dizer.
Kamila Valente
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