segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Sobre ser mulher, solteira, aos 30 (e poucos), em 2015.



Fiquei pensando, durante muito tempo, se eu tinha coragem suficiente pra escrever sobre isso e de tanto pensar sem achar resposta,  escrevi, por motivos de: não sou obrigada a nada.
E resolvi porque, depois de jogar muita conversa fora com amigas, colegas, conhecidas que ocupam a faixa dos 30 anos, eu percebi a barra que é estar sozinha nessa altura da vida.
Não vou falar de dramas pessoais como carências, frustrações e muito menos sobre como conquistar o homem amado em 10 passos.

Eu escrevo em nome das mulheres felizes com suas escolhas.

Essa mulher encara o olhar descrente da família, atura o preconceito social que dita a regrinha do “se tá solteira é porque algum defeito tem” e percorre a via crucis  da vergonha alheia carregando o peso de uma frustração que não lhe pertence. Todo churrasco de família  é a tia perguntando do namoradinho e todo lance é o cara fugindo porque projeta nela “aloka” do casamento, quando tudo que se quer é almoçar a picanha do tio em paz e dormir de conchinha por uma noite.

Essa mulher é vista sob olhares piedosos quando a encontram trilhando sozinha alguns caminhos, e sob ira da moral e dos bons costumes quando exerce com propriedade a sua solteirice ( e tudo que de mais legal ela carrega). A colocam no paredão pra ser metralhada, mandam a conta da bala pra família que se vinga nela, completando assim esse ciclo de cobranças e imposições sem sentido.
Ou seja, leva a fama de encalhada, sem ao menos, poder deitar na cama.

Que dureza.

A essa mulher está reservado apenas o ônus da vida de solteira. "Ela não pode ter escolhido estar assim", dizem os inconformados. Como conceber uma mulher que não quer casar quando está em vias de ficar estéril, enrugar e passar do ponto? A hora é agora, minha filha!
Case, procrie,  protele sua carreira enquanto os homens da sua idade fazem intercâmbio em Paris. 
Rodam o mundo num mochilão. 
Você não, você precisa de alguém. Você é um anexo.

Você não pode desejar alguém (ou alguéns) por uma noite. Você está fadada a um comercial de margarina, com prazo de validade.
Você não pode escolher muito, quem escolhe muito acaba sozinha. Você não pode tentar muitas vezes, você é muito seletiva.
Algum defeito você tem.

E se talvez o problema não for com ela? E se talvez só apareceu cara "rodado" pra ela? Qual artigo de lei incrimina essa mulher por se achar boa o suficiente pra não querer ninguém?
Parem com isso. Nos deixem ser mulheres, nos deixem externar nossas vontades que as vezes são tão fortes e pouco nobres quanto a de vocês, homens.

Parem de justificar essa concessão alegando a porta do carro que vocês abrem e o jantar que pagam. 
Essas atitudes respaldam a nossa vontade de passar na casa de vocês e levá-los pra jantar, sabiam?
Não estabeleçam regras, esse jogo não é de vocês.

Não usem argumentos rasos que contenham as palavras-chave: Recalque, solteirona e puta. 
Tá batido, vocês são maiores, melhores que isso. E é por isso qua ainda somos heterossexuais. Por gostarmos tanto dessa figura que vocês representam, ainda que muitas vezes, idealmente.

Permitam que as convictas mudem de ideia um dia (quando elas quiserem) e queiram alguém pra dividir os dias, pra sempre.
E, por favor, não façam as apaixonadas mudarem de lado. O amor é mesmo lindo quando alguém o deseja.

Kamila V.

9 comentários:

  1. Que texto incrível, Kamila! Caí aqui no teu blog e estou in love. Beijo!

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  2. Adorei seu post, muito parecida comigo. Precisava ler isso. :)

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  3. Caraca! Que blog legal!
    Adorei a forma como você escreve. Obrigado por ter me seguido no twitter e me fazer "descobrir" você!

    Virei fã!

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    1. Oi Leandro! Quanta honra! Não mantenho uma sequência temporal lógica, de posts. Mas vez ou outra rola uma inspiração... Apareça(sempre)!

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  4. belíssima texto. tudo que já pensei sobre o assunto e um pouco além.

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