Maria era assim, sentimentalmente destemida.
Se jogava sem bóia nem nada e atravessava o oceano nadando cachorrinho se preciso fosse. O lance era não morrer na praia.
Maria decidia. O cardápio. A posição. A trilha.
Ia seguindo com aquela coragem pra machão nenhum botar defeito.
Carregava o mundo dela nas costas, estacionava com ele onde queria, pedia uma cerveja e curtia.
Não bombou? Bora pra próxima parada. Partida e chegada.
Aparententemente era baixinha. simplezinha, comum.
Tinha que compensar de algum jeito e por isso escolheu ser inteira em tudo que fazia, em todos que tocava, até com quem mexia.
Maria se mexia no mundo. Mudava de cidade, de país, de cabelo, de amor.
E Maria amava tanto cada um dos seus amores, era tão certo cada vez.
Mas dessa vez tava estranho.
Eram explosões de felicidades a todo tempo. E como qualquer explosão que se preze.
Breve, forte, arrasadora.
O peito ficava pipocado, a boca se abria de uma orelha a outra infinitamente e a mão suava frio. Parecia adolescente.
E todo mundo preocupado com a Maria que parecia agora, uma mulherzinha.
Perdia a fala, ficava pequenininha diante daquilo. Ficava boba boba.
O coração se enchia de alegria boa. Boba.
Maria estava tão sensivelmente vibrante, mas aquilo não era ruim. Aquele mulherão que abria o caminho com um facão na mão cortando todo galho que fosse seco e feio, parecia uma menina. Que se tremia toda. Que se taquicardia toda. Mas que brilhava a retina.
Era tudo paixão.
E todo mundo preocupado com a Maria.
Uns sacodiam, outros rezavam, outros ainda brigavam com a menina.
Mas nada adiantava. Maria só queria apaixonar.
Maria se lixava. Maria queria apaixonada.
A paixão, ou nada.
Kamila Valente
" Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida...."