quarta-feira, 18 de julho de 2012

Maria, Maria.



Maria era assim, sentimentalmente destemida.
Se jogava sem bóia nem nada e atravessava o oceano nadando cachorrinho se preciso fosse. O lance era não morrer na praia.
Maria decidia. O cardápio. A posição. A trilha.
Ia seguindo com aquela coragem pra machão nenhum botar defeito.
Carregava o mundo dela nas costas, estacionava com ele onde queria, pedia uma cerveja e curtia.
Não bombou? Bora pra próxima parada. Partida e chegada.

Aparententemente era baixinha. simplezinha, comum.
Tinha que compensar de algum jeito e por isso escolheu ser inteira em tudo que fazia,  em todos que tocava, até com quem mexia.
Maria se mexia no mundo. Mudava de cidade, de país, de cabelo, de amor.
E Maria amava tanto cada um dos seus amores, era tão certo cada vez.

Mas dessa vez tava estranho.

Eram explosões de felicidades a todo tempo. E como qualquer explosão que se preze.
Breve, forte, arrasadora.
O peito ficava pipocado, a boca se abria de uma orelha a outra infinitamente e a mão suava frio. Parecia adolescente.
E todo mundo preocupado com a Maria que parecia agora, uma mulherzinha.
Perdia a fala, ficava pequenininha diante daquilo. Ficava boba boba. 
O coração se enchia de alegria boa. Boba.

Maria estava tão sensivelmente vibrante, mas aquilo não era ruim. Aquele mulherão que abria o caminho com um facão na mão cortando todo galho que fosse seco e feio, parecia uma menina. Que se tremia toda. Que se taquicardia toda. Mas que brilhava a retina.

Era tudo paixão.
E todo mundo preocupado com a Maria.
Uns sacodiam, outros rezavam, outros ainda brigavam com a menina.
Mas nada adiantava. Maria só queria apaixonar.
Maria se lixava. Maria queria apaixonada.

A paixão, ou nada.

Kamila Valente



" Maria, Maria
  É um dom, uma certa magia
  Uma força que nos alerta
  Uma mulher que merece
  Viver e amar
  Como outra qualquer
  Do planeta

  Mas é preciso ter manha
  É preciso ter graça
  É preciso ter sonho sempre
  Quem traz na pele essa marca
  Possui a estranha mania
  De ter fé na vida...."



quarta-feira, 11 de julho de 2012



É dificil recomeçar.
A gente fica meio assim sem saber pra quem rir, onde pôr as mãos, se dá dois beijos ou parte pra três.

Fica sem saber o que fazer quando entra no carro. Se apenas agradece ou também diz que ele tá lindo.
É tudo um completo não sei.

De repente o batom vermelho? Não, muito ousado.
O rosa? Não, muito menina.
Sem batom então? Ih, ta querendo beijar.

Como se vestir, uma odisséia à parte.
Como falar, como contar ou não piada, como mexer ou não nos cabelos. Tudo vislumbrando uma primeira boa impressão.
Enfim, você se projeta, tentando adivinhar e corresponder as expectativas do outro.
São verdadeiros tiros no escuro, que podem se transformar em tiro no pé ou em flecha no coração.

Vencida a etapa dos inúmeros “auto-questionamentos”, você está ali cara a cara com o novo e agora é só você e o seu potencial. Aí você tenta explorar o pouquinho da cultura que adquiriu com algumas viagens, com alguns livros e muita bossa nova. Mexe os punhos, exala o cheiro do perfume pra de repente ficar guardadinha num canto qualquer da memória dele, e acha graça de todos os passos de dança que ele faz.

Mas tem vezes que não adianta mesmo.
Tem coisas que não passam da memória pro coração, aí é só uma questão de tempo.
Do tempo vir e levar consigo aquilo que não criou raiz. Não por culpa sua, não por falta de empenho. Apenas, falta de espaço mesmo.

Não dá pra esbarrar paixão com amor. O amor é faixa-preta, a paixão uma menina que só consegue estapear, no máximo puxar uns cabelos.
O amor não deixa florescer mais nada, quase como uma erva daninha.
E não adianta o seu batom, o seu perfume, o seu francês e nem seu sorriso imensamente elogiado. Quando não se tem espaço, não se tem nada.

Espere, respire. De repente o vento vira a seu favor. Mas não esqueça de curtir a paisagem enquanto navega.

Vai que no caminho rola aquela lua linda ou aquele solzinho de esquentar o coração...

Let It be.

Kamila Valente

terça-feira, 3 de julho de 2012

Sobre viver



Sei lá, tá tudo meio estranho, tão calmo dentro de mim.
Chega a parecer que tem um buraco aqui no meio do peito, mas não dói.
É uma paz de estar onde se quer, com quem quiser e até sozinha.
Talvez isso seja amadurecimento, talvez fase. Mas tá bom assim.

O sol tem brilhado forte, a chuva tem tido cheiro bom e os ventos não me assustam mais. Sei lá, tenho dado uns passos firmes, com o pé todo na terra e na medida que eu sigo, as coisas vão pro lugar.

É bom estar aqui, é bom ser quem eu sou e ter esse cabelo que tanto me incomodava anos atrás. Sem hipocrisia de viver um mar de rosas, longe disso!, eu tenho definitivamente vivido. A diferença é que agora as dificuldades se resolvem com uma cerveja no bar da faculdade, uma tarde no parque, e depois, bem...Depois é um outro dia.

E cada dia de uma vez. Cada centavo gasto comigo, uma alegria e a certeza do melhor investimento.
Mas porque depois de tantos espinhos me arranhando pela estrada, eu subitamente só sinto cheiro de flor?

Não sei ao certo, mas me arrisco a suspeitar.

Primeiro eu tenho escolhido gente linda (por dentro e por fora) pra ter ao meu lado. Quem foi, foi por algum motivo maior que o meu pouco entendimento e quem veio, veio pra coroar.

Em segundo lugar eu decidi ficar bem, não deixei o mal criar raíz, não dei espaço pra nada que fosse maior que meu sonho e minha vontade. E caramba, têm dado certo...

Em terceiro e último lugar eu tenho me aceitado, física e intelectualmente. Meu pouco peito e alguma celulite são recompesandos por um pouquinho de cultura e em certos momentos, a falta dela, por um riso fácil. Uma coisa supre a falta da outra, afinal, não dá pra ser tudo, sendo eu.
Tenho dado valor pra vida que eu tenho e parado de sonhar enquanto ela acontece. Saí do plano das idéias, pra me jogar na realidade. A vida é isso mesmo que tá rolando ao vivo e como já diz o ditado, quem sabe faz.


Dia lindo a gente faz.

Kamila Valente