As coisas poderiam ter sido diferentes.
A gente poderia não ter tomado a pílula vermelha.
Poderia ter optado por um fardo mais leve ou por não
carregar bagagem nenhuma e pagar pro maleiro levar.
A gente poderia ter dinheiro.
A gente poderia ser o maleiro.
Poderia ter outros amigos, trilhar um outro caminho, com
flores ou ainda com cacos de vidro.
Poderia ter filhos.
Poderia falar cinco línguas e ganhar o
Nobel, posar nua pra revista masculina.
Poderia ter sofrido um acidente numa BR qualquer por excesso
de álcool.
Poderia cantar no coro da igreja.
Poderia ter fumado pouco ou nenhum cigarro.
Poderia ter
morrido de câncer ou atingido por aquele carro cheio de gente alcoolizada numa
BR qualquer.
Poderia. Poderia.
Todo mundo aponta aquele cara que só faz merda, sem se
importar em como é relativo esse conceito de cagar com a vida.
E com relação a isso eu preciso contar uma
novidade: Pro tal cara, o tipo de sucesso que vocês julgam ideal, não atrai.
A gente não teve outra escolha. A gente tem o que a gente
decidiu.
O que a gente fez e do jeito que quis fazer.
Eu atirei naquele cara, olhando nos olhos dele, porque ele ia me matar.
Eu arrumei minhas malas e fui pro Japão porque esse
continente era vazio demais pra mim.
Eu fiquei até mais tarde na cama e perdi o dia, pelo sono.
Eu usei palavras erradas sem saber que eram certas, pois afinal,
mandaram a pessoa errada embora.
Cheguei na hora errada e vi o que precisava ver mas não
queria. Mas uma vez, a escolha errada que deu certo.
As escolhas que a gente faz estão todas justificadas, pra
que a gente se orgulhe da nossa história.
Se orgulhe do tombo e daquela cicatriz
no joelho que faz lembrar como foi difícil levantar e olhar ao redor e ver que
tinha gente rindo.
As pessoas riem.
E foda-se o riso dos outros quando tem o sorriso certo da gente.
Quando tem a paz e a delícia de uma atitude que a gente
queria tanto ter.
O certo é o que é. A gente é o é e só.
Não se tratam de escolhas, se trata de não ter outras
opções.
Se trata apenas de ser o que tiver que ser pra gente viver.
Kamila Valente