Pra te explicar (sim, eu precisava te explicar...) eu procurei por muito tempo, algumas formas, jeitos e letras que fizessem o trabalho, mas nada era suficientemente vivo pra narrar teus dias na minha trama.
Eu te comparei, naquela conversa boba com um amiga, com o prazer de devorar uma barra inteira de chocolate.
Pensei que a comparação era boa, já que eu devorava tua presença, teu cheiro e gosto e depois passava mal.
Mas ela não me entendeu, porque afinal, ela não gosta de chocolate.
Tentei te mostrar nas músicas que tocavam nas rádios.
Só podia ser uma zoação generalizada de todas as programações, porque de um jeito ou de outro, você sempre acabava aparecendo, nas entrelinhas e semitons, das mais lindas linhas e escalas.
Era você ali, por trás, de todos os compositores do mundo. Era você cantado.
Como ninguém te via, eu pensava que tinha enlouquecido e como todo louco que se preze, queria provar o contrário.
Você estava ali sim, mas, só eu te enxergava e te ouvia, acho.
Procurei usar as histórias já contadas, dos amores desengonçados e desencontrados da literatura, mas como não tivemos um fim, eu me perdi entre os capítulos. E todo mundo, romântico ou não, sabe que nem o mais trágico dos contos amorosos foi contado pela metade.
Logo, como não soubemos viver uma história, não tem a menor possibilidade de eu te contar numa delas.
E passaram dias, meses, anos e eu ainda não acredito nessa impossibilidade de te explicar.
Partindo do princípio de que tudo, tem uma razão de ser e eu ainda não encontrei a nossa, eu fico confusa.
Vai ver que de repente a gente nem é, e talvez por isso, não tenho como traduzir nosso pseudo-encontro pela vida.
Aí sim.
Aí faz sentido ninguém te ver, onde só eu te vejo.
Faz sentido, eu tentar te explicar pra todos e geral dizer que eu tô louca, que você não existe.
E se existiu, já morreu. Já era.
De repente, tô eu, entrando no ônibus das 18, concordando e aceitando o que todo mundo disse sobre a gente, convencida de que a tua existência foi projeção da minha mente.
Aí eu abro minha carteira e lá está aquela tua carta antiga, escrita numa caligrafia inconfundivelmente torta com uma foto tua grampeada, declarando que a gente era assim, uma eterna loucura.
Chupa mundo.