terça-feira, 14 de agosto de 2012

Teatro



A moral da história girava em torno da necessidade intensa de se assumirem pseudo-resolvidos, definirem limites, demarcar espaço e se auto-denegrir.
Era um texto todo pronto, batido pra cacete, que achavam que convencia. Uma fala que saía toda segura da boca pra fora, mas dela pra dentro, sabiam-se inseguros e incertos.
Um tal de disfarçar que sabiam onde pisavam, que conheciam bem o terreno da enrolação e dominavam a arte de pegar, sem se apegar.
Mas cá pra nós.
Sabiam porra nenhuma o que fazer com tanta coisa exposta, coisas daquele tipo que nem fala firme encobre. Enquanto um promovia o discurso sobre uma distância saudável entre o coração e a tal história, o outro pulsava louco, concordando com cara blasé, que claro! era apenas corpo.

Ah, e por falar nele.

Eram bocas e mãos e pés e braços, que não obedeciam  a racionalidade que o teatro pedia.
Fora o amor, estavam ali pra interpretar o papel da superficialidade, mas mandavam muito mal, tipo novela mexicana.
Beijo cenográfico que fazia o coração adoidar.
Um olhar que encabulava, tirava a roupa e o fôlego.
Um carinho que se fazia de desentendido, mas era traído pelo arrepio.
Eles eram uma farsa ao contrário.
Tem que finja orgasmo, que gosta e até amor.
Mas eles fingiam não sentir nada.
Seguiam na vida, se esforçando pra não dilatar a pupila e não suar frio a cada vez que se esbarravam "sem querer."

Kamila Valente






quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Better Togheter


Era um beijo na testa, depois dos dedos entrelaçados nos fios da franja.
Era o mundo dos amores, dos olhares e suspiros e mais olhares seguidos de mais suspiros.

E eles haviam esquecido de como era bom. Se dar, sem ficar vazio.
Era uma infinidade beijinhos e beijões, que latejavam o coração.
Só por ser bom. Só por ser bem.
Ele cuidando pro coração não acelerar demais, já que a pressa sempre foi inimiga da perfeição, e o imperfeito nada tinha a ver com aquele momento.
Eram tantos abraços e braços. E pernas e pés perdidos sem saber pra onde seguir.

Era um amontoado de paz. Uma vontade de desligar a TV,  a luz e o mundo.

Era sempre esse o sentimento.
Meio que o céu na terra. Os travesseiros meio que  nuvem fofa.
E nem o inferno de não encontrar mais as meias e o cobertor que um roubava, tirava a beleza do paraíso que era estarem juntos.

E falavam verdades assim tentando se doer, fingindo estar bem resolvidos.
Mas quando se olhavam, sabiam-se.
Era quase como uma conversa paralela. Uma com a boca. Outra, bem outra, com o olho.
Estava definido que era bom estarem juntos.
Tomando uma cerveja. Doentes. Amando.

Better Together. Always better.