quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Você, aqui.



Todos os dias quando eu paro para atravessar a rua da universidade, um carro igual ao teu passa.
Todas as 400 músicas da minha playlist, desobedecem o comando mais aleatório que possa ter o aparelho e toca sempre o nosso som primeiro.

Nas duas vezes semanais que visito minha agência bancária, eu pego a senha que começa ou termina com o nosso aniversário.
Eu assino documentos com teu nome, como nunca antes.
Ganho amostra grátis do teu perfume.
Anoto telefones que só diferem do teu, no último dígito.
Brinco com cachorros, que têm o nome do teu.
Escuto tuas gírias no bar, na mesa ao lado.
Na loja, a moça me oferece tua camisa.

É você, na pizza que vem equivocadamente sem cebola.
É você, no cara que arrasta o pé quando caminha a minha frente.
É você na tv. No vulto. Na mente. No peito. Martelando.

E no fundo, eu fico sem saber se é a vontade que fica te projetando em tudo que é canto, ou se é o destino te trazendo aos muitos.

Se é saudade, em toda sua malandragem, querendo se curar ou só uma sequência quilométrica de acasos bobos que eu inventei pra acelerar os dias que se arrastam.


Sei lá o que é. De repente é tudo isso, menos você aqui.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pés perdidos



Como viver,  à partir dali, em harmonia com a falta, com o vazio e com o gosto amargo que toda solidão tem?
Em cada chegada a esperança do consolo, do pra sempre, do eterno, do agora vai.
Que bobagem.

Agora ela faria melhor, colocando um sambinha triste pra se situar no aeroporto que era aquele coração.
Se chovia, ninguém pousava.
Se fazia sol, congestionava.

Retroceder talvez fosse a opção mais sensata, já que o terreno à frente era incerto demais.
Mas até aquele momento, de nada tinha ajudado tanta sensatez.
A idéia então era fugir da métrica e encarar kamikaze aquele campo e suas minas ocultas.

Ela hesitava na esperança de que alguém impedisse, segurasse ou empurrasse de vez. Mas no fundo, queria mesmo é que a tomassem pela mão, seguindo junto.

Queria que alguém explorasse aquela selva de ruindade por ela, ao menos dessa vez, queria ser protegida ao invés de proteger. Sabia que só, e só, suas pernas a levariam a algum lugar. Mas de que adiantam pés solitários quando a questão é pra onde ir?

Precisava de um norte, um ideal ou nem tanto.
Acho que pra ela, bastava um sonho água-com áçucar, um rumo qualquer. E dali por diante, se fosse Nárnia ou Sodoma, pouco importaria.
O que contava era o começo e a chance de fazer tudo diferente. A dois.


Kamila V.